Em 2008 foi a primeira vez que visitei a Penitenciária Talavera Bruce em Bangú/RJ, a convite de um missionário evangélico. Eu não tinha a intenção de fazer nenhum registro escrito ou filmado, fui apenas ver o trabalho de evangelização que ele fazia.
Chegando lá, conheci várias mulheres que estavam na unidade cumprindo suas sentenças. Conversando com elas, de 10 casos, 9 estavam condenadas em função dos relacionamentos amorosos com homens do mundo do crime.
A partir desse fato, eu quis contar a história, mostrando também a penitenciária como personagem, já que se tratava de uma penitenciária bem diferente, quer na aparência, quer nas oportunidades de ressocialização que ela oferecia, tais como trabalho e cursos.
Fiquei mais de 8 meses ouvindo as histórias de quem quisesse me contar, com o objetivo de selecionar 5 mulheres para filmar um documentário cujo tema seria MULHERES CUMPRINDO PENA EM FUNÇÃO DE PARTICIPAR DIRETA OU INDIRETAMENTE NOS CRIMES PRATICADOS POR MARIDOS, COMPANHEIROS OU NAMORADOS.
Entrevistei mais de 50 mulheres, das 300 que cumpriam pena nessa unidade penitenciária.
Todas elas celebraram um termo de programa de trabalho através do qual elas se comprometiam a ceder os direitos de imagem, caso fossem uma das 5 escolhidas.
Depois de 8 meses, 5 moças foram selecionadas, e todas elas celebraram os respectivos termos de autorização de imagem para o Documentário.
Com base nesse termo, e só em função da celebração do mesmo, as filmagens foram autorizadas pelo Juiz competente e pelo Secretário de Adm. Penitenciária.
Sairam 3 matérias de mídia sobre o produção do Documentário: 1 revista que todas as 5 personagens receberam durante o Festival de Música 2010 o seu exemplar, uma matéria no JB que também foi entregue na mesma oportunidade a personagem de destaque na foto, e 1 matéria no site G1 sobre o Desfile de Miss Penitenciária que é aberto a toda a imprensa com todas as autorizações da SEAP, que publicou também matéria sobre o Documentário a partir das entrevistas da Miss vencedora, personagem do Documentário, e de outra detenta também personagem do Documentário que estavam desfilando, MATÉRIA ESTA QUE FOI REPLICADA POR VÁRIOS SITES tais como GAZETA, CBN, e que eu apenas COPIEI desses sites para o meu BLOG.
Passamos 02 anos entre pesquisas e filmagens, e dentro desses 2 anos, 6 meses somente finalizando o Documentário.
Uma personagem havia me pedido que não gostaria que fosse mencionado nada sobre sua família (mãe, pai, filhos e sua infância), e isso foi rigorosamente cumprido, limitando-se o Documentário a mostrar somente sua entrevista sobre como conheceu o seu namorado, que tipo de delito praticou, como se deu a sua prisão, como era a vida na cadeia e qual o seu SONHO para o futuro. Isso foi RIGOROSAMENTE cumprido.
Hoje recebo uma ligação dessa personagem que pediu todas essas reservas que foram rigorosamente cumpridas, me dizendo que eu havia exposto a imagem dela como ladra.
Bom, em primeiro lugar gostaria de dizer que sou responsável e minha intenção nunca foi prejudicar ninguém.
Fiz esse filme justamente para que a sociedade entenda que DEVE dar oportunidade a detentos e ex-detentos, e essa é a minha luta, havendo UM BLOCO INTEIRO NO FILME ONDE SE DEBATE RESSOCIALIZAÇÃO INCLUSIVE COM A PARTICIPAÇÃO DO JUIZ CORREGEDOR DA VARA DE EXECUÇÕES PENAIS DO TJRJ.
Eu desafio a qualquer pessoa, seja lá quem for, a dizer que o Documentário não exibe dignamente a imagem do detento.
Se houve alguma matéria de jornal, revista ou o que seja, que um ou outro personagem tenha considerado ofensíva, constrangedora, certamente NÃO FOI ESCRITA por mim, até porque não sou jornalista, e a via adequada para dirimir "conflítos" é a Justiça, e não "berros" e "pressão" ao telefone.
O Documentário É SÉRIO, trata cada uma das personagens COM RESPEITO e DIGNIDADE, e não foi por outra razão que eu me empenhei junto com a minha equipe de trabalho para fazê-lo e terminâ-lo, sem patrocínio - público ou privado - , sem dinheiro NENHUM, e fiquei muito chateada de ser acusada de algo que eu não fiz.
Meu Documentário É DIGNO. Não se parece nem de longe com essas reportagens BIZARRAS de TV, JORNAIS que expõe as pessoas ao ridículo. Cada imagem que tem no filme, cada foto que existe das personagens mostra o detento com dignidade.
Eu entendo que o detento e o ex-detento queira assistir ao filme também, como as pessoas que vão aos Festivias de Cinema. Ocorre que o Documentário ainda não foi selecionado para nenhuma mostra de cinema no RJ, e para que o detento assista, tem que ser exibido ou no TJRJ ou na PENITENCIÁRIA onde foi gravado, eu só posso entrar na unidade penitenciária para exibir o filme se o Juiz e o Secretário me autorizar, e isso não depende de mim.
Fazer exibição particular também é algo que não pode ser feito, primeiro porque é necessário equipamentos de PROJEÇÃO DE CINEMA, e eu não sou dona de equipamentos de projeção, o filme não tem orçamento para alugar e nem local para exibição privada porque também demanda pagamento pela locação do espaço. NÃO HA COMO EXIBIR NA CASA DE NINGUÉM, que fique claro. Não é só ligar a TV e colocar o DVD e pronto. Isso não existe.
Um filme, seja ele documental ou não tem que respeitar uma JANELA: primeiro FESTIVAIS, depois CINEMA se conseguir distribuidor, depois DVD se conseguir distribuidor/fabricante, depois TV fechada se conseguir veiculador, depois TV ABERTA se conseguir veiculador. Se for feito diferente, perde o ineditismo para essas JANELAS.
Explicar isso tudo para quem não é do ramo, é complicado porque as pessoas acham que você não quer mostrar o filme, e isso não é verdade.
É muito difícil defender uma causa, principalmente quando quem ainda não assistiu PRESUME mil coisas.
RESSOCIALIZAR é a minha meta. QUE FIQUE CLARO ISSO.
Nunca sacaniei quem quer que seja. Nunca sacaniei nem um animal, quanto mais um ser humano.
Tenho amiga que tem filho preso, e ajudei no que pude. Na semana passada mesmo encaminhei o rapaz para procurar o Afroreggae para tentar uma oportunidade de trabalho. Tudo o que eu puder para ajudar, farei, só não aceito de forma nenhuma ser taxada de irresponsável, disso ou daquilo.
Meu filme é tão digno, exibe com tanta dignidade a imagem do preso, que foi convidado a participar do ENCONTRO NACIONAL DO ENCARCERAMENTO FEMININO npromovido pelo CNJ - CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, cujo objetivo do ENCONTRO é discutir as regras impostas pela ONU - ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, Protocolo de Bangkok, sobre segregação feminina, melhorias da condição de vida da mulher no cárcere, porque mulheres ingressam no crime e RESSOCIALIZAÇÃO.
Se o filme não respeitasse a imagem do preso, JAMAIS o ORGÃO FISACALIZADOR DE TODO O SISTEMA CARCERÁRIO DO BRASIL exibiria o filme num evento dessa magnitude e importância para as mulheres encarceradas e para juizes, desembargadosres, promotores, defensores, procuradores e Ministros.
É o que tenho a dizer.
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